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“Brasil tem vocação para a felicidade, mas humor é careta”, diz Gregório Duvivier

Por André Aloi

Gregório Duvivier está em tudo! Em veículo impresso, tem sua coluna semanal na “Folha de S. Paulo” e faz eventuais colaborações. As mais recentes são para a revista “Harper’s Bazaar” de abril – que chega às bancas na próxima semana – em que assinará um artigo sobre sexo, e para um jornal português, onde explica a atual crise política brasileira. Semanalmente, invade a TV a cabo e a internet, com vídeos do Porta dos Fundos (PdF). Até o mês que vem fica em cartaz no teatro J. Safra com o espetáculo de improviso “Portátil” (ao lado de João Vicente e Luís Lobianco). Ainda tem o filme do PdF, “Contrato Vitalício”, previsto para junho.

Segundo o artista, tudo isso é uma loucura, uma máquina que não para. “Não é só escrever, tem que filmar, é uma epopeia. Cada vídeo tem a sua particular. Mas escrever é uma demanda maior. Porque gravar, vão marcando e você vai aparecendo. Para colocar as ideias no papel, você tem que ficar longe do celular, senão não consegue escrever”, explica. Com tantos projetos, o legado que ele acredita que deixará para próximas gerações é o de fazer as pessoas rirem. “É muito bom. O ideal é que o Brasil continue divertido. A gente é um País que tem essa vocação real para a felicidade. Mas o humor é muito careta. Que o humor sirva para transformar a sociedade e deixá-la mais justa”, pondera.

Não bastasse as inúmeras frentes atacadas por Gregório, música é algo que não está nos planos. “Eu não sou cantor nem músico. Toco trombone, mal. Gosto tanto de música que não me arrisco a viver dela porque não tenho essa vocação. Músico é um ser humano muito iluminado. Precisa de um dom que eu não tenho”, ri.

Ele e os asseclas de Porta ainda planejam um novo humorístico, que carrega no DNA algo político, aos moldes de americanos como John Oliver e John Stewart, respectivamente, apresentadores do “LastWeekTonight” e “The Daily Show”. “É uma coisa que está fazendo falta agora (com a crise política). A ideia é que ele traduza para o telespectador porque eu mesmo, às vezes, não entendo (o cenário político). O humor é uma boa maneira de aproximar o telespectador às coisas que não são palpáveis”, analisa.

Apesar da vocação natural com a fala, Gregório diz que não tem vontade de ser um apresentador de talk-show, como Jimmy Fallon ou James Corden, nos EUA. “O que acho mais legal e tenho vontade é algo do que faço na ‘Folha’. De repente, trazer a crônica para o vídeo, cuja função primordial é espalhar um pouco de confusão onde se tem certeza demais. Acho bom quando a gente vai fazendo perguntas e ruim quando a gente já tem todas as respostas”. Segundo ele, este programa seria para levantar questionamentos que não estão sendo feitos, como as legalizações de droga e do aborto. “O que trava tudo isso? E por que igreja não paga imposto?”, indaga.

Segundo Gregório, não é o mundo que está chato, mas quem fala isso. “Quem diz isso de ‘ah, hoje não posso fazer uma piada machista?’ Não, não pode. Sinto muito. Você até pode, claro, mas vai lidar com as consequências. Não concordo em dizer que é um humor correto ou incorreto, porque não acredito nesse termo. E não é que seja proibido. Você pode fazer a piada que quiser, mas de forma responsável. Assim como um romancista pode responder se ele escrever algo fascista, bem como um filme. Uma piada pode ser racista, homofóbica, assim como ela pode salvar vidas. Acredito no poder que ela tem”, pontua.


EM CENA
Se no teatro, ele e os colegas de cena trabalham com o improviso, deixar o rumo desandar seria a tarefa mais fácil. Mas lidar com o imprevisível faz com que eles usem isso a seu favor ao transformar histórias da plateia em algo que soe natural. “Eu amo porque você nunca pode relaxar. Não existe rotina, é muito bom. Eu adoro! Nunca vai ter nenhum espetáculo igual ao outro. Eu e meus amigos, a gente se diverte, mas sempre com aquela adrenalina. É uma corda bamba, que você pode cair. É algo completamente novo”, diz. “Tem um pouco de tudo. A história às vezes é cômica, escrachada… Tem outras que são mais sérias e umas que são dramáticas”, enumera.

MAIOR SONHO
Com tantos projetos em curso, muitas dúvidas: Há tempo para a vida pessoal? Qual o maior sonho de Gregorio? “Eu quero ter uma família vasta e feliz. Grande e feliz”, diz ele que não está namorando. “Eu acabo me relacionando com colegas de trabalho. Clarice (Falcão, ex-mulher, com quem terminou em 2015), agora João Vicente”, ironiza. “Acabo tendo que me relacionar com eles: João, Luís (Lobianco). É uma espécie de casamento, namoro. A gente se vê todos os dias… Meu relacionamento agora é com eles”. Aos 29 anos, ele afirma que não tem a menor pressa para realizar este sonho. “Moro numa casa que eu gosto. Estou feliz. Mas é um sonho futuro, sem data ainda. Pode ser daqui a um ou 10 anos. Mas claro que filhos, depois netos e bisnetos”.

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