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“A renovação faz parte do presente”, diz Branco Mello sobre novo DVD dos Titãs

Por André Aloi

Já está nas lojas o novo CD+DVD dos Titãs: “Nheengatu Ao Vivo” (Som Livre). Branco Mello, um dos líderes da banda, conversou por telefone com RG para falar sobre este lançamento. “Um disco novo de qualquer banda que seja, os Rolling Stones, por exemplo. Na turnê, eles tocam uma ou outra do disco. Tocamos oito, 10. Tem uma ousadia na nossa música, que traz esse frescor de estar se renovando e propondo coisas novas. A renovação faz parte do nosso presente”, revela o músico.

Segundo ele, a relação que a banda tem com o tempo e seu repertório é bem equilibrada. “No show ‘Nheengatu’, chamamos essas faixas que não tocava há um tempão. Agradam não só a gente, tem a ver com nossa fase atual, agrada aos fãs. Gravar DVD com tantas novidades é uma coisa difícil para uma banda de 33 anos como a nossa… Antes do lançamento do CD (de mesmo nome, de 2014), já vinha tocando as faixas ao vivo e foi fazendo esse trabalho de maneira peculiar. Foi colocando no repertório dos shows”.

Branco diz que esse álbum tem muitas coisas e temas de outras épocas e situações, mesmo no “Cabeça Dinossauro”, mas que ao mesmo tempo são muito atuais. “Fala do Brasil, tem referências a coisas das músicas brasileira, indígena, nordestina, os temas falam muito do Brasil do fardado, pedofilia, coisas que acontecem aqui. É uma crônica dos dias de hoje. Mas há um tempo atrás, em 2012, fez a turnê e reparou que os temas ainda eram atuais. Tá tudo lá até hoje, infelizmente”.

As novidades sonoras desta nova gig foram “As Máscaras”, “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas”, “Desordem”, “Massacre”, faixas que combinam com o repertório do “Nheengatu”. “Dialogam bem, são mais cruas, pesadas (…) Muitos dos temas que estão lá continuam acontecendo. E falar sobre isso é totalmente atual. Por um lado, é legal que não ficaram datadas. Mas ao mesmo tempo é ruim porque as coisas já poderiam ter melhorado mais do que acreditamos”.

A ideia de gravar um DVD em São Paulo ocorreu porque a banda nunca tinha feito um registro na cidade natal. “Foi muito bacana. Chegou a hora depois de 33 anos, finalmente. A Audio Club convidou, fizemos um contato bacana com eles. Foi uma noite só, o que foi legal para não ter maquiagem. No sentido de não misturar as imagens. Vamos gravar, seguir… Chamamos os melhores”, comemora, citando a diretora Joana Mazzuchelli, além de outras pessoas que trabalham com a banda há muito tempo.

Branco taxa a trajetória de sua banda como “muito rica”, com tantos acontecimentos. “Fazemos algo interessante e estamos sempre renovando em cada álbum, turnê, DVD… É um retrato do nosso momento atual. A banda tem uma dinâmica muito grande de repertório, de procura, busca, renovação e inovação sem perder a essência desde 82”, analisa.

Se a banda volta para o estúdio em 2016 ainda é uma incógnita, apenas querem excursionar pelo País com essas novas canções. “A gente tá curtindo agora. Essas que falei, especialmente pro DVD, como ‘Televisão’, ‘Desordem’, ‘Massacre’, ‘Pela Paz’ etc. foram colocadas recentemente, estão novas no repertório. Ainda vai fazer uma turnê tocando essas, e na turnê vai amadurecendo os novos rumos para o ano que vem”, diz ele, falando que quando não tem vontade, a banda para de existir. “Acho que esse estar junto é muito real. Sem barato, não tem música”.

MÁSCARAS
O DVD tem a banda mascarada, que foi uma ideia original do clipe “Fardado”, de Oscar Rodrigues Alves, com maquiagem. “Para o show, resolveu fazer as máscaras porque poderia tirar e continuar. Casou muito bem com todo o trabalho de direção, de câmera, e na turnê também porque apresentávamos quatro faixas novas logo de cara. Não foi uma coisa: vamos dar um significado por isso. Foi um pensamento estético, visual bacana. E ficou tão legal, o que acabou criando uma identidade para o próprio Nheengatu”.

NOVA SAFRA DA MÚSICA
É difícil, mas Branco diz que ouve coisas novas. “Em São Paulo tem uma cena de rock legal, mais pesado. E no Brasil inteiro. Muitas vezes, abrem nossos shows… É bacana, se influencia. Nunca foi assim: ouvimos aquele disco e agora vamos fazer um trabalho. Não nos reunimos para tocar o som que curte. Todos trazem suas influências. Por isso se criou uma identidade sonora, titânica, diferente”, reflete. Ele diz que é injusto citar nomes, mas lembrou de Sioux 66 e Garotas suecas, e fala: “a molecada está buscando seu espaço. As casas de rock estão sempre bem cheias. Geralmente, quando vou assistir são os amigos dos filhos, o filho tocando, a galera tem banda, né?”, finaliza.

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