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“Amy”: Documentário retrata carreira de cantora e vocação para autodestruição

Por André Aloi

O documentário “Amy”  – que retrata a meteórica e curta carreira de uma das cantoras mais talentosas da atual geração – tem pré-estreia no Museu da Imagem e do Som (MIS), de São Paulo, nesta quinta-feira (24.09), e entra em cartaz no Brasil no sábado (26.09) e segue até terça (29.09), na rede Cinemark, em algumas praças.

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O filme, dirigido por Assif Kapadia (“Senna”, 2010), elucida seu dom para cantar, mas principalmente sua vocação para a auto-destruição, em como a menina dócil que se afundou nas drogas, calcada no vicioso relacionamento com o então marido Blake Fielder-Civil.

O fim trágico, todos sabem, aconteceu em 23 de julho de 2011, quando Amy Winehouse foi encontrada morta em seu apartamento, em Londres, vítima de uma parada cardio-respiratória aos 27 anos. Entrou para o hall da fama do rock ao lado de Kurt Cobain, Jimmi Hendrix, Janis Joplin, entre outros artistas, que morreram com a mesma idade com histórico de abuso de álcool e drogas.

Na época em que morreu, Amy estava numa das poucas tentativas se livrar dos vícios que a consumiram depois da fama – era viciada em cocaína, heroína, experimentou crack, e também consumia muito álcool e maconha.

O longa (de 2h10 de duração) põe luz na pergunta mais foi feita naquela época: “por quê não houve intervenção?”. Seja da família, seja pela gravadora. Até houve uma tentativa da label em firmar um contrato para que ela ficasse “limpa”. Mas seu pai, Mitch Winehouse, segundo mostra o filme, era mercenário. Usava a filha em benefício próprio, e sabia muito bem controlar sua relação (assim como Blake). Afinal, ela era a menina do papai (como dizia uma de suas tatoos).

Numa das cenas do documentário, a cantora está em uma temporada de férias numa ilha do Caribe, e o pai vai encontrá-la com uma equipe de TV. Nesse momento fica clara a relação morde e assopra que eles tinham. Ele confrontava a filha e a fazia se sentir culpada por sua conduta, mas nada de ele pôr limite. Era só para ela se sentir mal mesmo.

No documentário, fica claro: Amy era carente, não sabia lidar com a fama. Usou a dependência química para lidar com tudo, inclusive sua timidez de início de carreira, registrado na primeira parte do filme, quando tinha 14 anos, ainda sob o sonho de ser cantora de Jazz. Sua pureza e personalidade dócil vão se inebriando assim que conhece Blake e, ao passo que sua carreira vai tomando proporções estratosférica, sua música chega ao topo das paradas e ela tenta se esconder, como se ela fosse uma versão ruim dela mesma. “Trocaria tudo para voltar a andar normalmente pela rua”, diz um de seus seguranças sobre uma citação de Amy pouco antes de morrer.

Além de dependente química, também era viciada em seu relacionamento doentio com Blake, que a acompanha em boa parte do filme. Essa paixão incondicional a fez se afundar num caminho sem volta. Mesmo quando buscou tratamento para o seu vício. O documentário ouve alguns especialistas que puseram em xeque a saúde da cantora, e alertaram que ela não devia ir pra a rehab com Blake. Um vídeo deles dentro da clínica de reabilitação arrepia quando ela diz que ela não gosta dali.

Um apanhado de imagens de premiações, programas de TV, performances e shows contam a história de Amy, mescladas com áudios de entrevistas de mais de 100 amigos, parentes da cantora e pessoas da indústria da música. Em nenhum momento eles dão as caras, que não sob o crédito: “voz de…”. Entrevistas antigas de Amy e asseclas também entram, como empresários, amores, família e produtores, além de vídeos e fotos de acervo pessoal que a mostram na intimidade, muitos deles sem dó de mostrar Amy passando vergonha no palco ou em estado alterado.

Em resumo, Amy é a protagonista de sua história, enquanto seu ex-marido Blake, o antagonista. O pai da cantora, Mitch Winehouse, faz as vezes de vilão e motivo de muitas de suas angústias e frustrações por causa de relacionamentos (ele largou de sua mãe quando ela tinha 9 anos). Era dele que a cantora esperava um basta, um “pare”, que nunca ouviu. Sua mãe também afirma, em um dos momentos do longa, que nunca soube a hora de dizer não para a cantora, ainda quando criança ou adolescente, quando ela apresentou os primeiros distúrbios de alimentação (bulimia).

Apaixonado, intimista, mas também categórico ao tratar dos problemas com droga e o tratamento da imprensa, em especial os paparazzi, o filme não tem pudores para abordar as drogas e os altos e baixos de Amy. Principalmente: os vergonhosos momentos que subiu bêbada ao palco, atacou fotógrafos ou se drogou no meio de ensaios. Mas também desperta um lado meigo, dócil, que se assemelha ao de uma criança. Numa delas, a cantora aparece envergonhada e tietando Tony Bennet na gravação do dueto deles, nos idos de 2010.

Nos últimos suspiros, o filme ainda aborda a tentativa de Amy de tentar superar a prisão do ex-marido Blake, tomar as rédeas de sua vida, gravar um novo CD (quando procurou antigos produtores, como Mark Ronson), e quando ligou para as amigas para se desculpar. O documentário é um soco no estômago, cheio de histórias nas entrelinhas para sair do cinema chorando, refletindo ou os dois.

SERVIÇO

m-v-f- estreia AMY
MIS – Museu da Imagem e do Som de São Paulo
Data: 24 de setembro de 2015
Horário: 19h30
Ingressos disponíveis para o público: 85 lugares (retirar senhas com 2 horas de antecedência).

Exclusivo na rede Cinemark
De 26 a 29 de setembro em 26 cinemas da rede
Ingressos à venda pela internet!
Em São Paulo, o filme entra nos cinemas Cidade de São Paulo, Metrô Santa Cruz e Eldorado.

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