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Da Tropicália à música inédita, Caetano e Gil reverenciam o Brasil em megashow em São Paulo

Por André Aloi

Caetano Veloso e Gilberto Gil são duas figuras importantes para a música brasileira, fundadores do movimento Tropicália lá nos idos de 60. Desde então, dispararam hits que fizeram sucesso nas últimas décadas na MPB. Até hoje, conseguem ser atemporais e pertinentes. A apresentação de quase duas horas, começou por volta das 22h, com quase 40 minutos de atraso – talvez pelo intenso trânsito da capital paulista em dia de chuva e protesto.

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Mesclando passado e presente, apresentaram uma faixa inédita no show que abriu a temporada “Dois Amigos, Um Século de História”, nesta quinta (20.08), no Citibank Hall, em São Paulo – depois de uma temporada na Europa. Nos versos da faixa, ainda sem título, conclamaram “as camélias do Quilombo do Leblon”. A letra remete aos tempos da abolição da escravatura, no Rio de Janeiro, sinônimo claro de resistência à época.

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Expoentes da Bahia, mostrando em cena sua baianidade nagô, celebraram seus 50 anos de carreira com uma ode aos estados brasileiros. O palco, além dos banquinhos e violões, tinha um varal com as bandeiras de todos os estados penduradas e um pano colorido com figuras geométricas ao fundo (com até uma estrela de David projetada em luz, assim como a bandeira do Brasil).

Estavam tão em casa que, de surpresa, fizeram o bis do bis. Voltaram duas vezes depois de sair do palco. Na primeira, tentaram terminar o show, dançando na frente do público, puxando o refrão: êta, êta, êta… É a lua, é o sol, é a luz de tieta, êta, êta”. Voltaram mais uma vez para mandar beijos e cantar “Leãozinho” e “Three Little Birds”, com todo o refrão cadenciado de Caetano e direito às onomatopeias de Gil.

Nas primeiras palavras trocadas com o público, Caetano brincou: “Bom estar de volta por São Paulo, com garoa e tudo”, brincou. Gil concordou e riu. Eles nem haviam cantado “Sampa” ainda. No repertório, que visitou, entre outras faixa, as conhecidas “Drão”, “Expresso 2222”, “Filhos de Ghandi”, “Domingo no Parque” e “A Luz de Tieta”.

Além de canções próprias, homenagearam João Gilberto (“É Luxo Só”), Simón Díaz (“Tonada de Luna”, em espanhol) e Tony Dallara (“Come Prima”, em italiano). O pé de Caetano, quando não estava firmando o violão, acompanhava o compasso, batendo-o no chão, com as melodias.

Em cena, nenhum sobressai ao outro. Os dois gigantes conseguem manter sóbrio o diálogo e a parceria, mesmo sendo duas lendas da música nacional. Longe de ter briga de ego. Sem rixas, eles são Paul McCartney e Mick Jagger dos brasileiros, parafraseando a comparação nos jornais lá de fora sobre a turnê. Caetano até que arrisca um passo ou outro, mas nada demais. É só o suingue da Bahia.

Em um dos momentos mais tenebrosos – com luz baixa e batucada no violão sem dedilhar, Gil entoa os versos de “Não Tenho Medo de Morrer”. Mas logo o momento muda porque os dois seguem com fé… até porque á fé não costuma “faiá”. Até domingo, se apresentam no Citibank Hall, na capital paulista, com ingressos esgotados. A apresentação chega ao Rio de Janeiro, nos dias 16 e 17 de outubro, dessa vez no Citibank Hall fluminense.

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