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25 anos sem Cazuza: “Dou uma choradinha todo dia, lavo o rosto e vou trabalhar”, diz mãe

Por André Aloi

Já se vão exatos 25 anos sem o cantor Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza. Ícone de sua geração exagerada, cantou sobre o cotidiano e amores desesperados ainda na época do Barão Vermelho, ditava moda, e – quando soube que estava doente – entoou as mazelas da sociedade, escolheu sua ideologia pra viver, e pediu para que o Brasil mostrasse sua cara. Seu tempo parou em 7 de julho de 1990, aos 32 anos, quando perdeu a luta contra as complicações do vírus da aids.

RG conversou, por telefone, com Lucinha Araújo, mãe do saudoso Cajú (apelido do cantor), que puxa série de entrevistas sobre o tema, que serão publicadas ao longo da semana. “Não sou masoquista, mas quero sofrer pela falta do meu filho. Posso dar uma choradinha todo dia, depois lavo o rosto e vou trabalhar. Mas não quero deixar de pensar nele com saudade”, diz. “Pra mim é mais um ano sem meu filho. Não tem diferença ele ter morrido na véspera ou há 25 anos. A dor continua igualzinha. O tempo não apaga, não, só vai mudando o sentimento. Não é que eu esteja conformada. A saudade vai existir sempre. Eu quero sofrer”.

Tiete assumida, conta que ele deixou sua marca na música nacional.”Depois que ele soube que estava doente, começou a cantar o País dele. E fez melhor que ninguém. As letras estão atuais até hoje. Eu acho que o cenário musical brasileiro tá meio devagar. Não sei se é por causa da política ou se as pessoas estão cansadas. Mas acho que ainda não surgiu outro Renato Russo ou Cazuza. Depois da geração deles, a música não apontou ninguém com a mesma força”.

O maior legado de Cazuza, explica Lucinha, não foi só de belas canções ou de estilo, mas de coragem. “Ele se confessar soropositivo, no auge da beleza, da juventude, da carreira, ganhando o dinheiro dele. Aquilo foi um ato de extrema coragem. Eu passei a admirar ainda mais meu filho”, refere-se à entrevista que deu ao “Fantástico”, falando ainda que a aids naquela época era tida como uma nova “peste”.

Seu fardo tornou-se inspiração para a Sociedade Viva Cazuza, instituição de luta contra aids. “Eu procuro encontrar nessas crianças um sorriso dele. Tenho vários filhos aqui”, derrete-se pela instituição que atende 15 crianças em regime de internato. “Venho todos os dias aqui, menos sábado e domingo. Adultos são 200 mensalmente, que vêm buscar ajuda ou uma cesta básica”.

Num tributo ao ídolo, ela diz que não pode faltar o amor. Lucinha se intitula “difícil” para escolher uma versão preferida de música de Cazuza. “Sempre acho que a dele é melhor. ‘Codinome Beija-Flor’, o Luiz Melodia cantou quase tão bem quanto ele. Eu sempre brinco: ‘nossa, você quase superou o Cazuza’”. Ela não tem uma única música preferida de Cazuza, depende de seu estado de espírito. Mas gosta muito de “Um Trem Para as Estrelas” porque acha a letra muito bonita. “Eu ouço ele todo dia. Se não estou afim de ouvir, ligo o rádio e está lá tocando”.

No ano em que se faz 25 anos da perda do ídolo, os fãs ganham uma série de presentes. Está previso para o segundo semestre um CD com letras inéditas, musicadas por artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Bebel Gilberto, Seu Jorge, Xandy de Pilares, entre outros. Além disso, a reedição de “Só as Mães São Felizes”, livro que deu origem ao filme que trata da relação entre Lucinha e o filho, além da atualização de “Eu Preciso Dizer que te Amo”, um guia sobre as faixas e regravações do astro do rock nacional.

Negando que possa haver um novo documentário sobre Cajú, diz que fez tudo o que tinha de ser feito, enumerando filme, exposição, livros etc. “Não tenho nem mais idade. Ano que vem vou completar 80 anos, chega, já é bastante”, afirma ela, falando que seu principal objetivo é levar adiante todos os projetos que já estão em andamento.

De mensagem para os fãs, dispara a frase: “Volta, Cazuza. Eu sei que é impossível, mas alimenta muito a alma. Se ele não voltar, vou ao encontro dele. Depois do que eu passei, tiro qualquer coisa de letra. É uma coisa tão anti-natural os pais enterrarem os filhos, você fica vacinada para o resto da vida. Ele foi tão forte, tão corajoso, que não poderia ser diferente. Eu aprendi muito mais com ele do que ensinei”.

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